O Inventor de Sonhos | Website Oficial

Não é um filme histórico... É a história de pessoas que vivenciaram esta época.



Storyboard

O STORY BOARD é uma peça fundamental para o desenvolvimento de um filme. É através dele que se otimiza os recursos de produção e se estabelece um diálogo claro com o fotógrafo, diretor de arte e diretor de produção. No caso do INVENTOR DE SONHOS esse elemento ainda se tornou mais importante, pois em se tratando de um filme de época, os recursos devem ser ainda mais administrados, pois qualquer reconstituição de época histórica é muito dispendiosa.
Desenhar as sequencias faz com que o tempo de filmagem diminua, a quantidade de objetos em cena sejam numericamente adequados, e encurta enormemente o tempo de montagem e pós produção. Mesmo se a improvisação se fizer presente no set de filmagem e o diretor optar por caminhos diferentes, o story board prepara todos para uma reflexão segura sobre o filme e é fundamental para dar segurança ao planejamento.
Como curiosidade, ao lado de cada sequencia desenhada colocamos um extrato do ROTEIRO do filme que ilustra a cena em foco. O roteiro é a base para tudo. Um bom roteiro, bem decupado, dividido em ordem certa de filmagem, e bem definido em um story board, já é uma boa garantia para uma realização consistente.
Não é preciso se desenhar o filme todo... apenas as sequencias de maior dificuldade de realização ou aquelas que definam um estilo ilustrativo para se transmitir para a equipe a intenção gráfica do filme . 


A CHEGADA DA CORTE

Rio de Janeiro – 7 de março de 1808
Um ESTRONDO forte corta a manhã. De um ponto de vista de alguém que está no nível do chão, vê-se a imagem desfocada de 3 GANSOS que, assustados, pulam, grasnam até saírem de quadro. Penas voam até uma cair sobre JOSÉ TRAZIMUNDO, um menino mestiço de aproximadamente 11 anos, que dorme sobre o feno. Ele arregala os olhos, espanta a pena que cai na sua boca. Sua visão, embaçada pelo sono, divisa na entrada da cocheira, uma carruagem em movimento. Com um só pulo sobe no estribo da carruagem, sentando-se ao lado do condutor, esfregando o rosto. Segurando as rédeas, controlando os cavalos com mão de ferro, José Eustáquio, 55 anos, cocheiro e negro alforriado. Mais um forte estrondo de canhão se mistura com um trovão da tempestade tropical. O céu carregado está cheio de raios. Os cavalos RELINCHAM e empinam. A imagem congela com os cavalos no alto.

TRAZIMUNDO ENCONTRA LUIS BERNARDO

TRAZIMUNDO a guarda dentro de um pequeno saco de camurça, amarrando o cordão com força. Dirige-se para a pilha e levanta uma caixa no exato momento em que Duque de Alva (filho do duque) surge na janela. Os olhares dos meninos se cruzam e Trazimundo deposita a carga com cuidado. No olhar de Luis Bernardo um certo desdem.

Luis Bernardo está sentado ao lado de Trazimundo e Eustáquio, olhando a cidade com atenção.  Pelo caminho, muitos NEGROS com cestos de todos os tipos carregam mercadorias, – cebolas, patos, madeira, água em barris.
OUTROS se dedicam a pequenos negócios, como barbearia, venda de doces ou de milho. Tudo nas ruas; gritam, , fazem barulho. A cidade toda soa com a movimentação..  Trazimundo não tira os olhos de Luis Bernardo, que por sua vez, não tira os olhos da rua.

TRAZIMUNDO VAI AO MERCADO

Perto do Arco da Bica o vai e vem dos ESCRAVOS com as mercadorias vindas do porto é uma constante. Muitos MARINHEIROS ingleses circulam pela região. Trazimundo fica observando. No centro da praça um senhor gordo sentado recolhe esporadicamente dinheiro ou ouro de escravos que carregam qualquer coisa para os passantes, mas ele percebe que parte do dinheiro fica escondido. Ao serem pagos, alguns escravos escondem parte do pó do ouro no meio da cabeleira mal cortada. O dinheiro fica na aba da roupa em lugares variados. A seu lado senta-se um negro indolente. Chama atenção porque está de cartola. Há uma nítida diferença entre os escravos que trabalham e os que ficam sentados indolentes… esses são mais bem vestidos.  Trazimundo observa. Encaixada na esquina uma pequena tenda com uma cadeira… não é a única… são dezenas, todas com negros no interior, vestidos de maneira excêntrica e estilosa. Outros negros estão semi deitados na calçada entretidos em jogos. 

O DISCURSO REVOLUCIONÁRIO

Uma tocha de fogo voa no ar da noite, incendiando certeiramente um monte de lenha organizado no chão. O fogaréu sobe rapidamente e ilumina a chegada de uma turba organizada de soldados mal arrumados marchando em sua direção. Há artilharia pesada, pólvora e chumbo dispostos em barricadas montadas na praça da capital. São soldados descontentes. Um jovem alto e inflamado se coloca a frente, sobe em um parapeito e discursa a plenos pulmões de forma teatralizada… parece o Corcunda de Notre Dame… é Libório! Está mais velho, mal barbeado. Pula da sacada para subir rapidamente em outra, como se fosse um macaco. LIBORIO Foram criadas comissões de cidadãos que vão governar em conjunto com o rei. Em Lisboa, as tropas exigem o mesmo! E nós? Vamos ficar aqui parados em vez de entrar nesta luta?   A turba aplaude enlouquecida! Ele balança a cabeça com um largo sorriso. As mãos gesticulam bizarramente.  

O MASSACRE

Os soldados com baionetas caladas, comandadas por D. Pedro, adentram pelo largo. Libório saca uma arma e dispara contra a tropa. Um soldado cai morto. Ele é negro. Um rugido ensurdecedor se segue… o batalhão descarrega toda a munição contra o prédio lotado. Libório cai morto. Muitos outros caem. Recarregam. Dispararam de novo. A seguir invadem o prédio com as baionetas apontadas. Perfuram indiscriminadamente.   Luis Bernardo e Trazimundo correm com Trazimundo à frente. Um soldado levanta a baioneta e faz pontaria mas é atingido com uma pedra logo atrás, arremessada por Luis Bernardo. Os dois se abaixam... ficaram caidos inertes… no meio dos corpos. Os guardas passam por eles revirando os cadaveres, procurando sobreviventes. À frente de Luis Bernardo o soldado morto… o negro. O tempo passa… Um mar de corpos estão imoveis. São negros e brancos. A câmera descreve as feridas a bala. Ainda sem se mexer Trazimundo percebe o olhar  fixo de Luis Bernardo.

FLASH BACK

É manhã em Alcobaça. As ruas estão desertas. Um tropel de cavalos passa em velocidade com Lescot arrastado. Na porta de Timoteo, a escrava com um filho nos braços está com os punhos amarrados em cima de uma carroça. No interior do patio Timoteo entrega um maço de dinheiro a um militar. A carroça parte.
No meio da viagem a criança o soldado arranca a criança de seus braços e ela se desepera. O soldado retira a garrucha da cartucheira e dispara um tiro em sua cabeça e o corpo cai. A carroça se afasta e a criança rastejando fica agarrada ao corpo da mãe. O vento sopra. A paisagem está erma. A brisa enche os dois de poeira com a passagem de tempo. Ao longe uma carruagem desponta na curva. Ela chega e para. É Eustáquio. Ao longe um cavaleiro vem a galope mas para ao ver o corpo de Dindara. Eustáquio recolhe a criança, limpa seu rosto e a coloca no banco da carruagem, e parte. O cavaleiro sem ser identificado se aproxima e vê Dindara.  

A PARTIDA DE D.JOÃO

Em Alcobaça todos estão recolhidos… menos Trazimundo e Luis Bernardo, sentados na beira da estrebaria. Vagarosamente a carruagem de Eustaquio entra no pátio. A parelha de cavalos atrelada à carruagem alinha-se ao lado deles. Estende a mão e puxa os dois para cima. EUSTAQUIO Vamos pro porto... Ainda me lembro de vosmeces na chegada… não tinham nem um metro e meio!...  Eles sobem. Sentam-se na mesma posição da chegada. Eustáquio na ponta e os dois lado a lado, na extremidade esquerda, com Trazimundo na ponta. A carruagem parte. A carruagem vai andando pela cidade.    Trazimundo sorri… Os olhos de Trazimundo se enchem de lágrimas. A carruagem prossegue. A lua ilumina os sobrados. Cenas da cidade na chegada, desfocadas pelas lágrimas, são intercaladas com cenas da cidade na partida. São totalmente diferentes.  Chegam nas docas no mesmo momento em que a carruagem de D. João se apruma diante da ponte do embarque… Ele esta dentro e só se vê sua silhueta. 

DESFECHO

Trazimundo volta-se para Eustáquio que lhe entrega seus pertences… uma trouxa de roupas amarradas. Trazimundo dá um abraço apertado em Eustáquio que fica com os olhos cheios de lágrimas. Dá meia volta, joga o saco nos ombros e caminha, sem olhar para trás. Luis Bernardo dá um passo a frente, mas Eustáquio o segura forte pelo ombro... Trazimundo continua a andar sem olhar para trás. Iaínha, chega e abraça carinhosamente Luis Bernardo …  Trazimundo continua andando impassivel.   Trazimundo sorri…  vira para trás. Leva a mão até a têmpora mas antes de alcança-la exita… cerra o punho e a abaixa. Vê o Rio de Janeiro… e também vê o amigo… O vento começa a soprar. Depois de alguns passos para... finalmente tinha entendido tudo... naquele dia em que os soldados levaram Dindara ao bosque dos bambus, a história tinha sido totalmente outra...
Como é que não tinha visto tudo antes??